Faça as Pazes com a sua Ansiedade

Se a ansiedade tem sido uma questão para você, seja atualmente ou há muito tempo, faço aqui um convite para essa conversa. 

Conversa porque enquanto você me lê, espero que muitas coisas apareçam em você e que você esteja em total disposição de ouvi-las. Pode até responder em voz alta, conversar sozinho é gostoso demais, né? Que atire a primeira pedra quem não faz isso. 

Não sei se eu tenho um objetivo claro aqui, já que muitas coisas podem acontecer, mas se fosse escolher, quero compartilhar que existem outras maneiras de olhar para uma mesma coisa, por mais difícil ou desagradável que ela pareça. 

Alguém disse uma vez: “os grandes problemas são como grandes montanhas: é preciso se afastar deles para enxergar melhor”, e bem… acho que para algo tão próximo e ao mesmo tempo tão misterioso quanto a ansiedade, é preciso andar uns metros para trás. Talvez quilômetros. Talvez dias de viagem.

Vou começar com uma história. 

O que ela significa vai caber a você. Eu terei o meu foco ao trazê-la, mas peço que deixe que a forma que a história vai encontrar você seja pessoal e completamente sua. 

Então partiremos para 3 perguntas que imagino serem comuns e respostas menos previsíveis sobre isso.

Prontos? Então venham comigo.

Imagine que você está em uma aventura e seu objetivo é chegar até um dragão para derrotá-lo. Os dragões são assustadores (ou ao menos achamos que sejam, quem nunca viu Como Treinar Seu Dragão?), e assim, você o vê como um inimigo, um predador. Nada mais natural que precisar se livrar dele, né?

No entanto, para chegar até ele, você precisa percorrer um longo caminho. 

Nesse caminho, você se propõe a passar algum tempo pesquisando sobre esse dragão. Você encontra livros, relatos, histórias deixadas por várias pessoas que já tiveram encontros com dragões.

Você se vê com interesse nessa criatura misteriosa.

Logo, você compreende o porquê dele estar ali. Afinal de contas, os dragões não aparecem do nada, né? Ele precisou vir de algum lugar para fazer alguma coisa.

De onde ele veio? O que ele precisou fazer? Qual a função dele ali?

Você passa a aprender, também, sobre sua anatomia.Tem escamas com certas cores. Cospe fogo em certos momentos. Suas asas funcionam sob ameaça, para fugir. Prefere lugares escuros e quentes, odeia frio e muita luz.

O tempo passa, o caminho se estende, você lê e aprende mais. 

Por fim, você chega ao destino. A batalha final. O momento chave. 

Ali está ele. Ali está o inimigo, o temeroso Dragão.

Mas… Algo está diferente. Ao vê-lo de frente, você não sabe exatamente o quê, mas… algo mudou.

Ele não parece mais ser apenas um inimigo misterioso. Nesse ponto, você já entendeu tanto sobre ele que parece quase… familiar? 

Você sabe como ele funciona. Só ataca sob ameaça e você não quer ameaçá-lo, e no fim, ele nem está reagindo tanto assim nesse momento. Talvez se você chegasse com a intenção de matá-lo, ele fosse cuspir fogo, mas agora ele não faz isso. 

Então você decide ficar ali. Você olha para ele, ele olha de volta. Às vezes ele cospe fogo, mas não contra você, e sim para aquecer o chão. 

Você sabe quando deixá-lo sozinho e quando é seguro se aproximar. Já se passou tanto tempo que você finalmente entende que ele veio proteger algo. Talvez, sem ter ele ali, tesouros preciosos estariam em risco.

Por fim, mais tempo passa. Ele não é mais um inimigo. Não é particularmente agradável, afinal, ainda é um dragão, mas você entende a função dele em seu reino. Você entende que tentar destruí-lo seria quase impossível, mesmo que tentasse. E se conseguisse fazer isso, haveria prejuízos.

Então… vocês fazem as pazes. 

Acho que ficou claro que não estou falando sobre dragões, certo?

Essa analogia foi criada pela genial autora Jean Clarke Juliano em seu livro “A Arte de Restaurar Histórias”, um favorito particular e deixo como recomendação.

Esse dragão pode ser muita coisa. Talvez – e eu espero que sim -, você já deu nome, forma, cor, jeito e personalidade a ele enquanto lia. 

Hoje, para mim, esse dragão terá um nome: Ansiedade.

 

O que é ansiedade?

A primeira pergunta será “quem é esse dragão?”, ou melhor, “o que é ansiedade”?

Interessante como algo tão popular e cada vez mais abordado seja ainda tão misterioso quanto a ansiedade. 

Se tratando de um fenômeno da existência humana, aqui entre nós, não existe nenhuma exatidão.

Como psicólogo, descobri que, mesmo na visão científica, a ansiedade não possui uma definição universal, como, por exemplo, temos nas leis da física e da matemática. 

O que todos parecem concordar é que está relacionada ao futuro. É como uma habilidade humana de fantasiar e prever ameaças, e assim, se preparar para elas. Por isso cria o estado de prontidão, de luta, de fuga, de precisar fazer alguma coisa para evitar esse risco.

Você concorda comigo que essa percepção é importante? Pense quantas coisas esse senso de talvez correr perigo ou ter altas chances de algo acontecer não nos livrou de muitas enrascadas!

Além do significado, eu considero ainda mais relevante saber que a ansiedade é natural. 

Assim como deve ser estranho pensar em viver sem nunca sentir tristeza ou alegria ou medo, existir sem ansiedade não é natural. 

Isso nos leva à próxima pergunta.

 

Como se livrar da ansiedade?

Como eu mato esse dragão, ou… Como eu me livro da ansiedade?

Talvez sua intenção ao buscar sobre ansiedade seja justamente responder essa pergunta, e, bem… Sinto informar que não é possível viver sem ansiedade.

Como assim?

Repetindo: a ansiedade é natural, então, para retirá-la por completo de nós, seria como viver sem tristeza ou sem alegria, conhecidos também como estados de “mania” e “depressão”, ambos potencialmente perigosos. 

Porém a ansiedade pode existir em excesso, e isso sim não é saudável ou natural.

Talvez, por conta desse excesso, seu objetivo agora seja justamente se livrar do dragão e, honestamente, eu entendo. Assim como um dragão que cospe fogo não é nada agradável de primeira, a ansiedade é incômoda, causa sofrimento e em certos níveis, paralisa você completamente. 

Muitas coisas podem ser feitas para amenizar ou mesmo tentar extinguir a ansiedade, mas acredito que embora eficazes em certos casos, esses métodos não são suficientes.

Aqui pretendo oferecer uma alternativa que pode funcionar para você. 

Essa alternativa foi proposta em um livro incrível que muito recomendo: “Dialogar com a ansiedade: Uma vereda para o cuidado” do autor Ênio Brito. Se você se interessar pelo que eu irei dizer, saiba que ele foi quem primeiro propôs.

Mas que alternativa é essa, no fim das contas? 

Conhecer seu dragão, ou… Dialogar com a ansiedade. O que leva à terceira pergunta.

 

Como fazer as pazes com a ansiedade?

Como dialogar com a ansiedade? Como faço as pazes com ela?

Vou citar algo aqui, mas não riam. Sun Tzu escreveu: 

“Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas.”

Ok, não estamos em batalha com a ansiedade e ela não é nossa inimiga (mesmo que pareça que sim), mas a parte sobre ser necessário conhecê-la faz sentido para mim. Colocando em outras palavras: se essa parte de você – a ansiedade – está incomodando, nada irá acontecer até que você a conheça bem. 

Sabe por que não dá para encontrar um consenso de definição de ansiedade? Porque esse fenômeno vai ser único para cada pessoa. Pensa comigo: vamos dizer que sua ansiedade é causada pela ideia de falar em público. Ok, podem existir coisas em comum para a maioria, como: sintomas físicos, acontece quando de frente a grupos grandes de pessoas, com certa frequência, etc, etc. 

Mas qual é realmente o sentido do que está acontecendo? O que você sente quando essa ansiedade aumenta? Já que ansiedade é sobre riscos, qual o risco que você sente que está correndo ao falar em público? Se você sente que deve fugir de situações de falar em público… Do que você realmente quer fugir?

Perguntas como essas são formas de conhecer o que é a ansiedade para você. Cada situação, cada contexto para ansiedade e cada pessoa precisará de uma forma única de perguntar e encontrar respostas. Porém, o fato de querer saber mais sobre ela é o início mais necessário.

Na Gestalt-terapia, isso seria uma forma de aumentar a awareness, que basicamente representa o contato genuinamente interessado e, vai por mim, esse interesse muitas vezes é negligenciado, ainda mais se tratando de coisas que nos incomodam, como a ansiedade.

Esse interesse no que acontece enquanto você sente ansiedade pode ser eficaz para descobrir mais sobre o que ela está te dizendo. 

Me dizendo, como assim? – você pergunta.

A ansiedade está aí por um motivo que muitas vezes parece nem existir, mas existe, e pode ser bem diferente do que achamos ser. Voltando à questão de falar em público: pode ser que a ansiedade em me expor em público me faça sentir medo. 

Ok, medo de quê? 

Medo de falar a coisa errada. 

E o que acontece se eu falar a coisa errada? 

As pessoas vão me julgar. 

E o que acontece se as pessoas me julgarem? 

Eu fico triste. 

O que acontece que pensar no julgamento das pessoas me entristece? 

E assim por diante. Isso foi um exemplo de estabelecer um diálogo, se propôr a entender que essas sensações não saem do nada. As coisas não são deterministas quanto: é isso por causa disso e ponto. Somos complexos e também são complexas as coisas que dizem respeito a nós. 

 

Conclusão

Sentir ansiedade não é fácil e entendê-la pode não ser, mas nós, como seres humanos, somos altamente capazes de mudar a forma que nos relacionamos com a ansiedade ou com qualquer outra coisa.

Não digo isso no sentido de positividade falsa, é um fato: nós temos todas as habilidades internas necessárias para mudar, transformar, adaptar, aprender, etc.

O que acontece é que por várias questões, em nós e no ambiente ao nosso redor, esse processo pode se tornar mais complicado. Nossos pensamentos ficam tão solidificados que parece que não existe outra alternativa senão a realidade dolorosa.

Por isso, se você sente que mesmo tentando e se esforçando, esse diálogo parece não fluir nos momentos de ansiedade, uma ajuda pode cair bem, não é? Talvez esse percurso até o dragão pareça assustador demais para ir só e uma companhia deixe as coisas mais seguras e confortáveis.

A psicoterapia é uma das maneiras de alcançar esse nível de maior segurança e de ter outra visão sobre o que acontece com você. Fazer algumas perguntas que nunca tinha feito ou encontrar respostas que não achavam existir em você.

O principal é: ansiedade é natural. Se é natural, existe uma maneira saudável de existir com ansiedade, e além disso, ela pode dizer coisas muito preciosas a você.

Espero que você dê esse passo de fazer as pazes com a sua ansiedade. 🙂 

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